Vila de pergaminhos antigos, encravada numa região de transição entre as paisagens minhota e transmontana, Mondim preserva uma aura de pacatez, mesmo durante os dias de semana, que lhe assenta bem. É ainda possível parar o carro e percorrer o seu dédalo de ruas a pé, já que nada do que (realmente) interessa fica muito afastado do seu pequeno centro histórico. Espreito a Matriz, passo pelos Paços do Concelho e procuro o portão da Casa do Eiró; é quanto basta para perceber que a vila está a passar por obras de requalificação, mas não faço orelhas moucas quando me sugerem que dê uma vista de olhos na Rua do Cavalo.
É uma ruela estreita e de traçado irregular que ainda hoje serve de passagem. Pitoresca a pérgula com folhas de videira por cima das nossas cabeças, bem junto à Casa das Morôas, um turismo de habitação anterior ao novo hotel da terra.
É, contudo, na Rua Velha que acho um brasão em pedra com as armas, bem no frontispício afilado, da Casa dos Azevedos, um dos muitos solares que ficaram para recordar a abastança antiga desta porção transmontana das Terras de Basto. Não resisto a admirar as cameleiras vergadas pelo peso dos seus botões carnudos, mas é à Adega de São Tiago que rumo sem mais demoras. Mudaram-se não faz muito tempo, mas o tempero e a hospitalidade são conhecidos e não é de agora.
Num meio pequeno como o de Mondim, as pessoas estão interligadas por afectos, mas também pela necessidade de, juntos, ultrapassarem os custos da interioridade. Quem bordou as toalhas e idealizou a decoração da adega foi Fátima Martins, dona da Loja do Gato Fu. Casada com Miguel, que organiza passeios pedestres no Parque do Alvão, Fátima deixou Lisboa, e o seu emprego como comercial no jornal Diário de Notícias, para abraçar uma nova vida dedicada aos lavores e ao artesanato. Vejo-a bordar os panos de linho com as mesmas cores que, mais tarde, encontrarei na paisagem.
Passo frente à entrada de Ermelo, mas ainda não é chegado o momento de entrar. Com o final de tarde a aproximar-se, subo até às Fisgas de Ermelo, um lugar altaneiro e ventoso onde o Alvão nos reduz à escala humana. Mais do que os fiapos de água soltos pelo rio Olo, impressiono-me com as garras afiadas e os blocos imponentes de granito, com a fúria do vento e com o balir das cabras montanhesas.
E, finalmente, o Ermelo. Os últimos raios de Sol invernal permitem-me um primeiro contacto com a vida comunitária que ainda perpetua muito do que já foi, e ainda é, Trás-os-Montes. Subo até onde posso, para enxergar com desafogo os vales de lameiros e matas, mas também para pairar sobre o casario com telhados negros de ardósia. Tarda a cair o breu profundo, os lampiões acendem-se ainda antes da plenitude do lusco-fusco.
Há algo de fantasmagórico nestes lugares perdidos. Há algo de abandono. Há algo de terrivelmente poético e de inexplicavelmente belo. Assim o sinto.
É uma ruela estreita e de traçado irregular que ainda hoje serve de passagem. Pitoresca a pérgula com folhas de videira por cima das nossas cabeças, bem junto à Casa das Morôas, um turismo de habitação anterior ao novo hotel da terra.
É, contudo, na Rua Velha que acho um brasão em pedra com as armas, bem no frontispício afilado, da Casa dos Azevedos, um dos muitos solares que ficaram para recordar a abastança antiga desta porção transmontana das Terras de Basto. Não resisto a admirar as cameleiras vergadas pelo peso dos seus botões carnudos, mas é à Adega de São Tiago que rumo sem mais demoras. Mudaram-se não faz muito tempo, mas o tempero e a hospitalidade são conhecidos e não é de agora.
Num meio pequeno como o de Mondim, as pessoas estão interligadas por afectos, mas também pela necessidade de, juntos, ultrapassarem os custos da interioridade. Quem bordou as toalhas e idealizou a decoração da adega foi Fátima Martins, dona da Loja do Gato Fu. Casada com Miguel, que organiza passeios pedestres no Parque do Alvão, Fátima deixou Lisboa, e o seu emprego como comercial no jornal Diário de Notícias, para abraçar uma nova vida dedicada aos lavores e ao artesanato. Vejo-a bordar os panos de linho com as mesmas cores que, mais tarde, encontrarei na paisagem.
Passo frente à entrada de Ermelo, mas ainda não é chegado o momento de entrar. Com o final de tarde a aproximar-se, subo até às Fisgas de Ermelo, um lugar altaneiro e ventoso onde o Alvão nos reduz à escala humana. Mais do que os fiapos de água soltos pelo rio Olo, impressiono-me com as garras afiadas e os blocos imponentes de granito, com a fúria do vento e com o balir das cabras montanhesas.
E, finalmente, o Ermelo. Os últimos raios de Sol invernal permitem-me um primeiro contacto com a vida comunitária que ainda perpetua muito do que já foi, e ainda é, Trás-os-Montes. Subo até onde posso, para enxergar com desafogo os vales de lameiros e matas, mas também para pairar sobre o casario com telhados negros de ardósia. Tarda a cair o breu profundo, os lampiões acendem-se ainda antes da plenitude do lusco-fusco.
Há algo de fantasmagórico nestes lugares perdidos. Há algo de abandono. Há algo de terrivelmente poético e de inexplicavelmente belo. Assim o sinto.
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